Foto: Fernanda Queiroz
Por Fernanda Queiroz
Hoje escrevi frases pequenas, simbólicas. Palavras que escaparam do peito e pousaram no teclado como pássaros cansados — ou prontos para voar. Enquanto soltava essas letras, eu terminava de pintar uma peça de madeira velha, que ninguém queria.
Era um basculante da casa vizinha, no bairro Ponte Branca, em Paraty. Morei ali por cinco anos, e toda a poeira que o vento trazia tinha endereço certo. Não era poeira de tempo, era poeira de violência. A empresa Vale Sul derrubava uma montanha e os caminhões levavam a terra para aterrar o mangue do bairro vizinho, o Jabaquara. Dois bairros ligados pela dor. Os caminhões subiam e desciam a rua o dia inteiro, e nos feriados — quando o olhar fiscal sumia — aceleravam a destruição. Fizeram quebra-molas, não para impedir, mas para tentar conter o impacto.
O basculante, esquecido e jogado fora após uma reforma, carregava toda essa poeira. Madeira grossa, pesada, escurecida pelos anos e pela história que não se conta fácil. Levei para casa. Lixei. Lavei. Esperei secar. Dei verniz marítimo, e aos poucos ele começou a brilhar.
Depois de algum tempo, ele viajou comigo. De Paraty para Patos de Minas. Estou aqui agora, onde minha mãe nasceu e onde fui concebida, mesmo tendo vindo ao mundo em Brasília. Hoje caminho pelas margens do Córrego Rico, e por aqui sou chamada de uma Perau, pela ancestralidade que me atravessa: sou tataraneta de um homem que fugiu do Perau das Andorinhas para deixar de ser escravizado. Buscou liberdade e encontrou amor no colo de uma mulher indígena, curandeira daquele chão.
Remonto o tempo e a vida. Uma separação aconteceu. Vivi um amor em Paraty, um casamento que também foi casa, e que chegou ao fim. Então parti. Parti para longe da dor. Parti com as asas do amor próprio começando a crescer. Aqui, em Patos, reencontrei o cheiro do colo da minha mãe. O cheiro da saudade de estar onde meus pés pertencem. As novas amizades me acolhem, e aos poucos vou me refazendo.
Mesmo assim, a saudade do mar e da serra não vai me deixar.
Lembro com clareza do dia em que cheguei a Paraty, em novembro de 2016. A rodoviária estava em reforma. Tinham acabado de passar massa branca nas paredes. Era como se um livro em branco me recebesse. Página por página, comecei ali uma história de amor e dor. Sempre achei que aquilo era uma premonição. Um livro por escrever. E talvez seja isso mesmo: um livrão. Com asas de inspiração, muitos capítulos, e revoadas no quintal à beira do Rio Perequê-Açu — onde me banhei tantas vezes quando o calor apertava o corpo em transição, até que a menopausa chegou naquele lar.
Agora, remontando meu ateliê em nova terra, percebo que também lavo, lixo e envernizo partes minhas. O basculante vai ganhar rodinhas e um lugar de destaque. Vai carregar flores, tecidos ou talvez só silêncio. Vai carregar lembrança.
Vai carregar meu coração.
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