A Efan (Escola Família Agrícola de Natalândia) atende alunos de 22 municípios de Minas Gerais e Goiás. Dos 420 alunos, 25 são de Bonfinópolis de Minas. A explicação para o esforço em viajar mais de 70 km e ficar longe da família para estudar é a proposta diferenciada de ensino, que busca o resgate de valores e a participação da família. Por meio da pedagogia da alternância, a cada 15 dias os pais chegam para estudar e vão embora junto com os filhos no final do dia. A troca acontece sempre aos sábados, aproveitando o mesmo transporte. O Diário de Bonfinópolis acompanhou os pais até a escola, neste sábado (13). Durante todo o dia, os adultos aprimoram os conhecimentos, que já fazem parte da rotina da maioria, que atua no meio rural.
O EJA Pais foi iniciado na escola em fevereiro deste ano e, atualmente, 33 pais de alunos frequentam as aulas. Dessa turma, dez são moradores de Bonfinópolis de Minas. A Colação de Grau é realizada anualmente na própria escola. A expectativa é a de que 70 alunos se formem em 2019 e 90 em dezembro de 2020, incluindo os pais.
Osmar Batista comemora o ingresso dos dois filhos na Efan. Gabriel, 16 e Daniel, 18, entraram juntos ano passado. Gabriel tinha feito o 8ª ano e Daniel retrocedeu dois anos escolares para ingressar na instituição. Os garotos vão se formar junto com o pai. “Eles não queriam vir, aí eu pensei que tinha que arrumar uma forma de trazê-los. Fui na Prefeitura e pedi para que trouxessem vários alunos para conhecer. Quando eles voltaram, estavam apaixonados e quiseram vir e, hoje, eles estão gostando, graças à Deus”, conta, Osmar, que é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bonfinópolis de Minas. O motorista do ônibus, que faz o transporte do estudantes, a esposa e o filho estudam na escola. O ônibus é cedido pela Prefeitura municipal.
A intenção de Osmar, é divulgar o trabalho da escola. “A maioria dos filhos saem de casa, vai estudar fora, perdem a identidade e não valoriza o meio rural. Essa escola foi criada para que os filhos possam estudar próximos à família e influenciar os pais a estarem por perto”, disse. Acompanhe o seu depoimento inspirador:
Jhenifer Camille Bispo, 16, moradora da Comunidade Canabrava de Bonfinópolis, ingressou na escola no início do ano passado e está cursando o 2º ano do ensino médio. Seu objetivo é se formar técnica agrícola. “Claro que estudar é cansativo, mas a escola é muito boa. Falei com a minha mãe que eu queria muito vir estudar aqui, ela veio comigo para conhecer, gostou e eu estou aqui até hoje. Muitos vem para cá pela educação, que é de muita qualidade. Os melhores livros didáticos, os melhores professores. Tudo para nos ensinar. No final a gente vai agradecer por todo o esforço”, reconheceu, a estudante, que pretende se formar em agronomia.
Silvio Vieira, 44, pai de Jhenifer, sua única filha, é só orgulho da jovem. O trabalhador rural começou no projeto EJA Pais esse ano. “Estou achando um pouco difícil, mas estou gostando. O estudo, hoje, está mais avançado e a gente acaba ficando perdido”, comenta. Estudar na mesma escola em que a filha é uma forma de acompanhar de perto o seu desenvolvimento. “Ás vezes os filhos ficam rebeldes a gente estudando junto trás mais segurança. A gente fica mais unido, participam mais um da vida do outro, vendo como está se comportando. Estou achando que ela vai ficar incomodada porque eu cheguei por derradeiro e vou formar junto com ela (risos)”. O trabalhador rural larga os afazeres na fazenda para ir para a escola pelo menos duas vezes ao mês, além das atividades que leva para casa.
Para o coordenador, a divulgação do trabalho da instituição é importante para o reconhecimento e também para o conhecimento de futuros estudantes. “O agricultor, que ainda não tem conhecimento, que saiba da existência da escola, que pode ser aquilo que ele deseja para o filho”, destaca.
A limpeza das salas de aula e dos alojamentos é feita pelos alunos, além do paisagismo, o cuidado com os animais, entre outras atribuições. As aulas são iniciadas logo após o café da manhã, às 7h e, às vezes se estendem até à noite. A equipe formada por 26 colaboradores, no total, é de gente jovem. O professor mais velho deve ter no máximo 45 anos, e mesmo sem cabelos brancos, todos são respeitados pelos estudantes. Para cuidar da garotada em período integral, 13 dos funcionários (solteiros), entre monitores e professores, moram na Efan. Além de todo o espaço ser monitorado por câmeras.
Outro ponto fundamental é a qualidade do ensino, que tem aprovado alunos em universidades federais. Só esse ano, seis estudantes ingressaram em instituições como a UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e UFV (Universidade Federal de Viçosa). Esse número pode superar o do ano passado, que teve 16 alunos aprovados. Um dos estudantes aprovado em medicina, o que comprova que, não necessariamente, o estudante precisa gostar da área agrícola ou agropecuária para ingressar na instituição. “Tem muito aluno que não gosta, mas faz. Se você quiser ser médico, nunca vai direto, precisa passar por um curso. Tem muitos que levam por esse lado. Se formam, exercem a profissão durante um período, para depois ir atrás da profissão dos sonhos”, disse, Orcelito. A instituição possui convênio com algumas faculdades particulares, possibilitando desconto nas mensalidades.
O alunos do ensino fundamental têm acesso a aulas de associativismo e cooperativismo, administração e economia rural, projeto de orientação profissional, zootecnia e agroecologia, português, literatura, álgebra, geometria e ciências. O ensino médio acrescenta o ensino técnico, que inclui administração e economia rural, legislação ambiental, irrigação, topografia, agroecologia, olericultura, bovinocultura, zootecnia, forragicultura e agroindústria.
Da conclusão do ensino fundamental até a formação no ensino médio e técnico, são cinco anos de estudos. A instituição aceita alunos que estejam cursando do 8º ano em diante. Segundo Orcelito, pessoas já formadas no ensino médio ingressaram na Efan para obter a formação técnica e buscar uma oportunidade no mercado de trabalho. Os municípios de Dom Bosco, Unaí, Brasilândia, Santa Fé, Riachinho, Sítio da Abadia (GO), Formoso e o Distrito Federal são alguns de onde partem pais e alunos em busca de um aprendizado diferenciado.
A maioria dos profissionais da escola já foi seus alunos. Orcelito, por exemplo, faz parte da primeira turma de formandos da escola na nova sede, em 2013, quando tinha um total de 50 alunos. Atualmente, cursa agronomia e pretende fazer mestrado e doutorado.
Alex Andrade resgatou um pouco da história da Efan. Segundo ele, a instituição foi criada pela Associação Escola Família Agrícola de Natalândia, formada por moradores em busca de uma educação diferenciada para a região, em 2004. O modelo de ensino de alternância surgiu no interior da França, no século XVII e foi introduzido no Brasil na década de 70. Devido ao número de assentamentos em Natalândia, era preciso conhecimento técnico para desenvolver a produção nas propriedades. A primeira turma só foi implantada no local, em 2007, com uma estrutura bastante inferior em relação a atual. A Superintendência Regional de Ensino chegou a condenar a unidade. Os alunos foram encaminhados para Natalândia e em março 2013, a escola voltou a funcionar no endereço atual, após passar por reformulação.
Ainda de acordo com o coordenador, a Efan é mantida pela associação, mas é considerada particular, sem finalidade lucrativa, por isso pode receber recursos tanto da iniciativa pública como da privada. O Governo de Minas Gerais, por meio da Lei 1. 614/2004 repassa o valor per capta do Fundeb (Fundo Nacional da Educação Básica), em 2018 correspondia a R$ 4 mil por ano para cada aluno. Por meio do Decreto 684, alterado em 2017, o Estado pode ampliar a forma de financiamento. Além disso, a escola conta com a parceria de cooperativas, associações e federações que contribuem com apoios diversos. Todo o orçamento anual é direcionado para os gastos com alimentação, investimentos, pagamento de professores e energia elétrica. Como nada é tão bom que não possa melhorar, a escola enfrenta desafios, que, segundo o coordenador, consistem em ampliar o número de cursos técnicos, garantir reconhecimento por parte do governo do estado e conseguir efetivação do apoio aos estudantes egressos.
O terreno da instituição é de 14 hectares com atividades econômicas divididas em três setores: Zootecnia – responsável pela criação dos animais – Agricultura Geral: responsável pela parte da fruticultura e culturas anuais e a Olericultura: – responsável pelas hortaliças e floricultura. Os setores foram pensados para durante o período em que os alunos permanecem na escola. O ensino é divido por trimestre e não por bimestre como acontece nas escolas regulares. Os alunos são revezados por setor de maneira que todos aprendam sobre as três áreas durante o ano. Na Efan, os alunos têm acesso à internet, contam com 4 salas de aula com ar-condicionado, uma sala de informática, biblioteca, laboratório, 3 alojamentos (feminino, masculino e para visitantes), um auditório, um refeitório e área de lazer.
Para colocar toda a teoria em prática, as turmas trabalham com a produção de ovos, húmus (minhocas), criação de tilápias, chiqueiros com porcos e leitões para abate, carneiros, ovelhas, vacas, aves de postura (galinha) e apicultura. Além da plantação de hortaliças, horta medicinal e frutas e verduras como banana, abacaxi, mamão, mandioca, caju, cana, barú, acerola, pepino, abóbora, entre outras, que são consumidas na própria escola e comercializadas na região.
Adriano Gonçalves, 26, explicou que a plantação é feita de forma orgânica, buscando a harmonia entre as árvores. “A gente procura manter o que acontecia dentro da natureza, aquele intercâmbio, sem degradar, pode plantar com organização, respeitando a sobra que a planta faz, o tamanho de cada uma, o espaço entre elas. Mostrar para os alunos que eles podem produzir de forma natural, saudável, respeitando o meio ambiente”, explica.
Recentemente, a escola foi contemplada com o SAFs (Sistema Agroflorestais) realizado pela Embrapa e Ministério da Agricultura, com o objetivo de produzir sem degradar o meio ambiente. Outro projeto recente, foi a construção do biodigestor para produção de gás natural. Segundo Adriano, o custo com a obra é de cerca de R$ 6 mil e para a produção são necessários dois carros de mão de esterco (bovino, suíno e outros) por dia para obter de 4 a 5 botijões de gás de cozinha por mês. O gerente de produção também estudou na Efan, se formou em história e está finalizando o curso de agronomia na Factu de Unaí (MG),
Uma equipe da Efan visita os municípios para identificar os alunos com o perfil que mais se aproxima do procurado pela instituição. Os estudantes são selecionando de acordo com o número estabelecido de vagas por município. Cerca de 50 alunos aguardam na lista de espera. O próximo processo seletivo deve ocorrer no início do ano que vem.
Processo:
Endereço: Assentamento Projeto de Assentamento Saco do Rio Preto, na BR – 251, próximo ao trevo
Contato: (38) 3458-0015
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