O pedido de moradores e funcionários do Centro de Convivência Sr. do Bonfim é por um 2019 sem as incertezas, que assombram a rotina no local. Atualmente, a Conferência da Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP) em Bonfinópolis de Minas sobrevive de recursos dos próprios assistidos, entre aposentadorias e BPC (Benefício de Prestação Continuada), além de doações da população e de comerciantes. No total, são 41 moradores e somente 18 funcionários para atender a todas as demandas dos idosos. Parte do grupo com necessidades especiais.
O drama vai além. Só com o pagamento de funcionários e encargos trabalhistas são gastos em média R$ 30 mil por mês, sendo que a soma dos benefícios mensais dos aposentados não chega a R$ 40 mil. Dos funcionários da instituição, só três são cedidos pela Prefeitura do município, o restante da folha de pagamento é todo feito com os recursos dos idosos. Dessa forma não sobra para a reforma dos banheiros, a troca dos aparelhos de fisioterapia, a compra de novas máquinas de lavar roupas, novos armários e outros itens necessários para o conforto dos idosos e de quem cuida deles. Sem falar na compra dos medicamentos, já que nem todos são fornecidos pela Secretaria de Saúde da cidade.
O CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social) permite que a instituição utilize 70% do salário dos assistidos, os 30% deveriam ser repassados para os idosos, mas, além de serem gastos com objetos de uso pessoal deles, essa porcentagem acaba sendo utilizada para completar o pagamento dos funcionários. A responsável pelas finanças da casa, Jacira Ferreira e a enfermeira Ivonete Guimarães são os pés, as mãos e o coração do lar do idosos. “O que entra, a gente paga a folha de pagamento, os encargos e pronto. As despesas ultrapassam o valor de 70%”, disse, Jacira, acrescentando que o CMAS fez uma retificação para que a instituição possa usar os recursos também para o pagamento de funcionários.
O arroxo é ainda maior no final do ano por conta do 13º dos funcionários. São 28 assistidos, que recebem BPC (Benefício de Prestação Continuada) do SUAS, sem 13º. “Em dezembro entra pouco mais de R$ 40 mil e o gasto é o dobro do valor. Tentamos guardar pelo menos R$ 5 mil todo mês para arcar com as despesas extras no final do ano, mas, na maioria dos meses o orçamento não fecha. É muito imprevisível. Um deles pode ficar doente e ter que fazer um exame caro ou contratar um funcionário para substituir alguém que fica de atestado. Gasto pisando em ovos”, enfatiza.
A administradora financeira, reconhece a importância da colaboração da Prefeitura, mas ressalta que o fornecimentos de todos os medicamentos, muitos deles de alto custo é de obrigação do Executivo e uma cobrança da Promotoria de Justiça. A entidade é do SUAS (Sistema Único de Assistência Social), é responsabilidade da Administração”, explicou, Jacira. Mas, admite, a falta de repasses por parte da Prefeitura não acontece somente na gestão do atual prefeito, Donizete Antônio dos Santos. Para se ter uma ideia do desfalque de funcionários, o ideal seria ter dez cuidadores de idosos e, só um técnico em enfermagem faz todo o trabalho.
No final do seu mandato, o ex-governador Fernando Pimentel sancionou a lei, que norteia as relações entre poder público e usuários do SUAS, Lei 23.176. “A lei confirma o que já é lei. De verdade muda pouco porque os trabalhadores do SUAS estão sobrecarregados e estão ligados ao poder público. Se o gestor não for sensível as questões sociais não vai priorizar. Nos últimos anos fiz quatro capacita SUAS. Cursos de formação sobre as leis do SUAS. Mas, infelizmente a prática está séculos atrás da teoria”, enfatizou, Jacira.
Além de apagar incêndio o tempo todo, a instituição precisa se enquadrar em normas de órgãos como Vigilância Sanitária e Corpo de Bombeiros, mas é quase impossível obedecer. O jeito é fazer uma lista de prioridades. “Chegam e dão prazo para a gente arrumar em tantos dias. Um vazamento na parede… Tem coisas que tenho que responder dizendo que não será possível porque pode comprometer a alimentação dos idosos”, lamenta. Para que os idosos não fiquem desamparados, a Sociedade São Vicente de Paulo acabou assumindo a responsabilidade sobre o Centro de Convivência. Muitos dos assistidos nem recebem visitas e muitos não teriam para onde retornar, caso fechasse o local.
A Vigilância Sanitária exige que as roupas dos moradores do Centro de Convivência sejam lavadas e guardadas separadamente, mas, por falta de pessoal e de equipamentos adequados para lavar os tecidos, o vestuário dos 41 assistidos é lavado ao mesmo tempo. “Aqui lava roupa todos os dias, duas vezes por dia e só tem uma pessoa para lavar. Os residentes mesmo acabam ajudando”, lamentou, Ivonete, que é enfermeira, mas, ajuda no que for necessário.
“A gente não sabe dizer não e, também vemos as necessidades deles. Se a gente não tivesse amor mesmo, não faria tudo isso. É muito bom não só pra eles, pra gente também”, conta. Em casa, a enfermeira cuida do pai acamado e de uma filha especial de 16 anos. “Do jeito que eu cuido do meu pai eu tento cuidar deles. Então, não dá para fazer de conta. Sou enfermeira, mas dou comida, se precisar dar banho eu dou. Se precisar de ajuda na cozinha eu ajudo. Estou aqui para o que precisar mesmo”, desabafou.
Como se não bastasse, em 2015, após protelar ao limite, a entidade passou a ser classificada, também como empresa, isso complicou ainda mais a situação financeira da casa, que passou a ter de cumprir todas as obrigações de uma empresa, como pagamento de impostos e taxas e a validação de certidões junto aos Governos Federal e Estadual. Por ironia, a mudança se deu por conta do número de funcionários, considerado grande demais para que a instituição não seja registrada como empresa. O Centro de Convivência também está inscrito como ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos), que possui mais uma série de regras ditadas pelo Estatuto do Idoso.
Além de carinho, de acordo com as coordenadoras, comida à mesa não falta porque a solidariedade da população de Bonfinópolis é grande. Uma festa mensal de aniversário é feita com a doação do bolo de 5 Kg garantida. A administração da instituição precisa comprar apenas 30% da alimentação dos idosos. “O grosso mesmo, como, arroz, feijão, macarrão, a gente não compra. Só verdura, fruta, o lanche e materiais de limpeza”, comenta, Jacira. Em compensação os gastos com fraldas geriátricas chega a R$ 3 mil e no mínimo R$ 2 mil por mês com medicamentos. Uma partida amistosa de futebol está marcada para 12 de janeiro, com intuito de arrecadar alimentos para a instituição. A Secretaria de Ação Social é uma das parceira do lar.
Procurado, o prefeito, Donizete dos Santos participava de uma reunião em Arinos, nesta quinta-feira (3), mas adiantou que o Centro de Convivência é uma entidade filantrópica e não estatal, por isso, a Prefeitura não teria obrigações com a instituição. O secretário de Saúde, José dos Reis está em férias e não comentou sobre a não disponibilização de parte dos medicamentos. A Promotoria de Justiça de Bonfinópolis de Minas está em recesso e não comentou as obrigações do Poder Executivo em relação ao Centro de Convivência de Idosos da Sociedade São Vicente de Paulo.
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