Romper o ciclo da violência e expor o problema é uma decisão que só cabe a mulher, mas a responsabilidade é de todos. O MP e a OAB deram um grande passo, nessa quarta-feira
O evento foi pouco divulgado, a plateia foi pequena mas o tema: Fim da violência contra a mulher, de fundamental importância, foi esmiuçado e explicado o suficiente para alcançar o entendimento de qualquer cidadão com o mínimo de disponibilidade para a mudança e o crescimento como homem. As palestras demonstraram que a Lei Maria da Penha e o ciclo da violência doméstica são assuntos ainda não compreendidos por muitos.
Promovido pelo Ministério Público e OAB de Bonfinópolis de Minas, o encontro, na Câmara Municipal, na noite dessa quarta-feira (4), trouxe um alento para jovens e senhoras presentes e que, com certeza, vão repassar a experiência a muitas outras. Os objetivos de compartilhar e conscientizar foram atingidos, mas a proposta, segundo os palestrantes, é continuar semeando a conduta do não machismo e do respeito a mulher nas escolas do município.
Os números não param de crescer
Os 13 anos da lei criada para proteger as mulheres de seus companheiros não têm amenizado os números. Em sua explanação, a advogada Neubia Fernanda lembrou de uma publicação recente da ONU (Organização das Nações Unidas) em que mostra que 7 entre cada 10 mulheres já sofreram com violência doméstica ou ainda vão sofrer. O Violentômetro, criado pelo site Metrópoles mostra que, só este ano foram 10.242 casos de violência contra a mulher no Distrito Federal. Além de 16 feminicídios praticados na região da Capital Federal.
Ainda no DF, um caso recente de feminicídio mostrou a verdadeira face do machismo. Por ser honesta, mãe de família, trabalhadora, Letícia Sousa Curado, de 26 anos, foi estrangulada pelo cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41, depois de recusar o assédio do homem. O cozinheiro desempregado também matou Genir Pereira de Souza, de 47 anos e mais 17 vítimas de estupro e assédio sexual acusam o maníaco.
Outros tipos de violência
“A agressão psicológica ela traz um dano que não atinge só a mulher, ela atinge toda a família”, afirmou, Neubia. Ouça o que a advogada falou sobre a importância da participação de toda a sociedade e principalmente o reconhecimento da responsabilidade individual no combate a qualquer tipo de violência contra a mulher.
Chega de Constrangimento
A segunda a falar ao público, a jovem promotora de Justiça Sofia Frange, 28, foi enfática na inviolabilidade dos direitos que as mulheres conquistaram por meio da Lei Maria da Penha. Além disso, alertou sobre o drama de, na maioria dos casos, os agressores serem os próprios companheiros das vítimas. “Essa é a grande crueldade da violência doméstica. Ela é praticada pelas pessoas que a gente ama, pelas pessoas em quem a gente confia. E como tem muito sentimento envolvido, tudo fica mais difícil. Tanto a apuração de eventual crime, quanto a própria denúncia”, disse, acrescentando que o número de denúncias é muito pequeno em relação ao número real. A chamada Cifra Negra (crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades policiais ou judiciais).
Ouça o que a promotora falou sobre como a mulher deve ser tratada pela autoridade policial, a partir do momento da denúncia contra o agressor. Além disso, Sofia ressaltou que os homens ainda precisam de orientação em relação ao trato com a mulher e as várias formas de violência. A questão cultural ainda é apontada como uma das causas de agressões e outros tipos de violência, principalmente nas pequenas cidades, como é o caso de Bonfinópolis de Minas, com pouco mais de 6 mil habitantes.
A verdadeira masculinidade
O advogado e pastor, Leonardo Azevêdo encerrou o evento afirmando que o machismo é um câncer cultural e social. Ressaltou, também, que o homem está esquecendo do seu papel na família e deixando as obrigações de lado, obrigando a criação de leis de proteção a mulher e a crianças. “A Lei Maria da Penha, uma ação de Pensão Alimentícia, uma ação de abuso sexual. Só acontecem porque o homem é fraco. Principalmente os homens da nossa geração: são fracos, omissos, violentos e irresponsáveis”.
Ouça o que o advogado e pastor orienta diante do tipo de homem que comete crimes contra a mulher.
Conheça e seja uma colaboradora do Instituto Maria da Penha, criado para ajudar mulheres a enfrentarem a violência doméstica e familiar. Se se sentir ameaçada, não se cale. Ligue 180. A Ordem dos Advogados e o Ministério Público também estão à disposição das mulheres em Bonfinópolis de Minas, no Fórum Celestino Carlos de Azevedo, na Rua São José, 651. Contato: (38) 3675-1710.