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quarta-feira, dezembro 4, 2024
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    SESI lança campanha alertando para os riscos das apostas online

    Preocupado com os impactos na saúde mental e financeira da sociedade, Serviço Social da Indústria faz campanha para a conscientizar sobre riscos relacionados às apostas online bets

    Para alguns, uma simples diversão. Para outros, uma tentativa de ganhar dinheiro de maneira rápida e fácil. A verdade é que para a grande maioria das pessoas, as apostas online podem se resumir em uma palavra: prejuízo. Não para as empresas que ficam com 88% de todo o dinheiro apostado, mas sim para os jogadores que, na melhor das hipóteses perdem “apenas” o dinheiro. Quando a prática se torna um vício, bens, recursos e saúde é que estão em jogo. Atento ao tema e preocupado com os possíveis impactos sobre os trabalhadores e a sociedade, o Serviço Social da Indústria (SESI) iniciou uma campanha de conscientização sobre as bets.

    “Queremos esclarecer e dar visibilidade aos riscos das apostas online. Temos o objetivo de informar a sociedade sobre os impactos na saúde mental e financeira e também estimular um estilo de vida saudável e equilibrado”, diz o superintendente de Saúde e Segurança na Indústria, do SESI, Emmanuel de Souza Lacerda.

    A campanha do SESI tem cinco pilares. O primeiro, na área de educação e conscientização, busca informar sobre os sinais de dependência. O segundo mira o impacto social, chamando a atenção para os riscos coletivos e as consequências para famílias e comunidades.

    O terceiro pilar da campanha fala sobre educação financeira. Para o SESI, o conhecimento e a organização das finanças pessoais ajudam a dar a dimensão das consequências negativas das apostas. Segundo um estudo divulgado pelo Instituto Locomotiva em agosto de 2024, 86% dos apostadores acumulam dívidas e 64% estão com o nome sujo no Serasa, serviço de proteção ao crédito. São comuns relatos de tomada de empréstimo para seguir apostando, provocando um efeito dominó de agravamento das dívidas. Os prejuízos chegam a familiares e ao ambiente de trabalho.

    A quarta etapa da campanha pretende incentivar formas de lazer saudáveis, como atividades recreativas alternativas que promovam um estilo de vida equilibrado. O quinto e último pilar da campanha diz respeito ao autoconhecimento. A ideia é que o jogador faça uma autoanálise e se pergunte: “Será que estou viciado em jogos?”

    O SESI também tem utilizado inserções de posts nas redes sociais para conscientizar a população sobre os riscos dos jogos de apostas online. A ideia é ampliar o alcance de potenciais pessoas que costumam utilizar a internet para fazer essas apostas.

    Dependência prejudica o trabalho, relações pessoais e a saúde mental

    Os sinais mais claros de que o jogo se transformou em um problema de saúde é quando o indivíduo passa a apresentar problemas no trabalho, nos estudos e nos relacionamentos interpessoais. Negligenciar atividades e responsabilidades para jogar e se mostrar incapaz de reduzir o tempo dedicado às bets são sinais de atenção.

    “Jogos de apostas online podem parecer divertidos, mas esse vício pode arruinar vidas. Se, mesmo assim, a pessoa quer jogar, ela precisa definir limites, se informar sobre os riscos e buscar ajuda se as coisas saírem do controle. É muito importante que as pessoas preservem a saúde financeira e mental”, alerta Lacerda.

    A ludopatia e seus efeitos

    Ainda faltam mais estudos que demonstrem de maneira estatística o impacto das bets na saúde mental dos jogadores compulsivos, mas psiquiatras dão dicas do que pode acontecer. Os especialistas tomam como base os dependentes em jogos tradicionais como bingo, cassino e jogo do bicho.

    O desejo incontrolável pelos jogos de apostas tem nome: ludopatia. Definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a impossibilidade de resistir ao impulso de jogar, o transtorno é registrado no Brasil pelos CIDs 10-Z72.6 (mania de jogo de apostas) e 10-F63.0 (jogo patológico).

    A ludopatia tem um mecanismo semelhante ao de outros vícios, como a dependência química em álcool e drogas. O ato de jogar ativa sistemas de recompensa do cérebro, que liberam dopamina, um hormônio neurotransmissor responsável pelas sensações de prazer e satisfação, a partir do momento em que se joga ou aposta.

    A pressão constante causada pelas perdas e busca pela recuperação do dinheiro trazem impactos sérios à qualidade de vida de boa parte dos apostadores. Pessoas ouvidas na pesquisa do Instituto Locomotiva, relataram que o ato de apostar:

    – Aumenta a ansiedade – 51%

    – Causa mudanças repentinas de humor – 27%

    – Provoca estresse – 26%

    – Traz sentimento de culpa – 23%

    Confira os sinais de alerta

    Apresentar quatro ou mais desses comportamentos em um período de 12 meses indica risco de ter transtorno do jogo:

    1. Ter necessidade de jogar valores crescentes de dinheiro para atingir a excitação desejada;

    2. Sentir-se inquieto ou irritado ao tentar reduzir as apostas ou parar de jogar;

    3. Fazer repetidas tentativas malsucedidas para controlar, reduzir ou parar de jogar;

    4. Mentir para esconder a extensão do envolvimento com jogos;

    5. Jogar quando se sente angustiado (por exemplo, desamparado, culpado, ansioso, deprimido);

    6. Voltar a jogar com frequência para tentar reaver valores, depois de perder dinheiro jogando;

    7. Ficar frequentemente preocupado com o jogo (por exemplo, ter pensamentos persistentes de reviver experiências passadas de jogo e maneiras de obter dinheiro para jogar;

    8. Prejudicar ou perder um relacionamento significativo, emprego ou oportunidade educacional ou de carreira por causa do jogo;

    9. Depender de outros para fornecer dinheiro para aliviar situações financeiras desesperadoras causadas pelo jogo de azar.

    *Fonte: DSM V da sigla em português, “Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais”.

    Nem todo mundo que joga desenvolve o vício e tem prejuízos com as apostas, mas, segundo levantamentos internacionais, 9% dos apostadores apresentam problemas financeiros ou sociais. E 1.4% dos jogadores desenvolve o transtorno do jogo ou jogo patológico.

    O termo transtorno do jogo foi reconhecido como um diagnóstico psiquiátrico em 1979 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O vício em jogos funciona de modo muito semelhante à dependência por álcool e cocaína. Antes, acreditava-se que apenas uma substância poderia levar à dependência.

    Bets movimentaram R$ 21 bilhões em apenas um mês

    Muito populares na Europa, Ásia e Estados Unidos desde meados dos anos 2000, as empresas de apostas online foram autorizadas a operar no Brasil no fim de 2018. Até então, a única forma oficial de se apostar no país era por meio de jogos organizados pela loteria federal. Atualmente, cerca de duas mil empresas, a maioria estrangeiras, operam no Brasil. Estima-se que apenas nos últimos seis meses cerca de 25 milhões de pessoas tenham entrado no universo do jogo online. Segundo estudos do Banco Central (BC) o brasileiro transferiu entre R$18 e R$21 bilhões por mês, via pix, para empresas de apostas desde o começo de 2024. Para comparação, em agosto, todas as loterias do país movimentaram R$ 1,9 bilhão.

    Entre 2021 e 2024, o setor cresceu cerca de 7%. Todos os meses, cerca de 3,5 milhões de brasileiros acessam alguma plataforma pela primeira vez, de acordo com o Instituto Locomotiva. O perfil do apostador online no Brasil é formado em sua maioria por homens jovens e de classes sociais mais baixas. De acordo com o estudo, 40% dos jogadores têm entre 18 e 29 anos e 80% deles pertence às classes C, D e E. O mesmo estudo apontou ainda que cerca de 86% das pessoas que apostam estão endividadas, onde 64% delas têm seus nomes negativados em serviços de proteção ao crédito.

    Quando perguntados sobre a principal razão para apostar, “ganhar dinheiro” foi o principal motivo apontado por 53% dos entrevistados – mais que o dobro da segunda colocada, “diversão/entretenimento/lazer” (22%) e bem acima de “emoção e adrenalina” (10%), “passar o tempo” (7%), “curiosidade” (6%) e “aliviar o estresse” (2%).



    Sobre Ana Paula Oliveira
    Jornalista formada em Brasília tendo a Capital Federal como principal cenário de atuação nos segmentos de revista, internet, jornalismo impresso e assessoria de imprensa. Infraero, Engenho Comunicação, Portal Fato Online e Câmara em Pauta, Revista BNC, Assessoria de Comunicação do Sesc-DF, Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Rádio Nacional da Amazônia e Jornal GuaráHOJE/Cidades são algumas das empresas nas quais teve a oportunidade de trabalhar com alguns dos renomados nomes do jornalismo no Brasil, e não perdeu nenhuma chance de aprender com esses profissionais. Na televisão, atuou na TV local de Patos de Minas em 2017, além de experiências acadêmicas.
    Ana Paula Oliveira nasceu em Bonfinópolis de Minas e foi morar em Brasília aos 14 anos e retorna à cidade natal em 2018. Durante os 20 anos em que passou na capital, a bonfinopolitana não desperdiçou as chances de crescer como pessoa e também como profissional, com garra e determinação. Além disso, conquistou algo não menos fundamental na sua caminhada: amigos. Isso mesmo. Para a jornalista não ter verdadeiros amigos significa ter uma vida vazia. E, com certeza, esse é um dos seus objetivos, fazer novos amigos nessa nova jornada da vida..

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