A moradora da Estrutural Glice Rodrigues de Sousa, 47, é a próxima a ser contemplada pelo projeto Nenhuma Casa sem Banheiro. A catadora de materiais recicláveis viu na iniciativa a oportunidade de dar mais dignidade para a filha portadora de necessidades especiais, que em breve ganhará um espaço maior e com acessibilidade para a higiene da família.
“Ganho pouco, não tenho condições de construir um banheiro novo e com espaço adequado”, conta. “Ela [a filha] não enxerga, não anda, e o nosso banheiro é pequeno, só cabem ela e a cadeira, e eu fico do lado de fora auxiliando no banho. Agora será diferente, e estou muito feliz.”
Fruto de parceria da Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab) com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF), o projeto entra em uma nova etapa, com a construção de mais cinco banheiros, dos 15 ainda previstos. Só nesta primeira etapa, o investimento foi de R$ 359.130, beneficiando 20 famílias em situação de vulnerabilidade na Estrutural.
A autônoma Francinete Pereira dos Santos, 46, já usufrui do banheiro recém-entregue. “O chuveiro quente é minha alegria”, conta. “Antes tomava banho frio, molhava tudo, a parede era de madeirite. Senti uma alegria imensa quando vi o novo banheiro. Eu não teria condições de fazer. O nicho da parede é lindo, parece banheiro de rico. Estou muito feliz”.
Projetos personalizados
De acordo com o assessor técnico da Codhab Filipe Paiva, as construções procuram atender as necessidades das famílias. “Cada casa é uma, e os projetos são personalizados”, afirma.
“Os arquitetos visitaram todas as residências para conhecer a realidade de cada morador. Há casas em que o banheiro é adaptado com acessibilidade e barras de proteção, e houve uma casa em que tivemos que construir dois banheiros, pois moravam 14 pessoas na residência”.
O engenheiro, que acompanha todas as obras, ressalta que as construções ultrapassam os limites dos banheiros. “Geralmente entregamos o cômodo, mas o trabalho nunca fica restrito a ele; em muitos casos, as instalações acabam sendo feitas na casa toda”, detalhe. Na casa de Glice, o antigo banheiro vai virar um posto de ventilação, e uma janela será construída no quarto para melhorar a iluminação do cômodo. Já Francinete ganhou uma área de serviço coberta. As obras em cada casa têm duração de 30 a 60 dias.
Para o administrador regional do SCIA e Estrutural, Alceu Prestes de Mattos, a escolha da cidade para o projeto-piloto é acertada. “O banheiro é uma necessidade básica de qualquer ser humano”, pondera. “Esse é um projeto maravilhoso para uma população tão carente como a nossa. Além disso, tem toda uma questão sanitária que envolve a cidade, o subsolo e os mananciais; por fim, os moradores estão felizes e gratos pela iniciativa”.
Seleção das famílias
“Um banheiro, que para muitos de nós é uma coisa simples e básica, para essas famílias é a realização de um sonho”
Marilurdes de Lago, assistente social da Codhab
No total, a iniciativa já contemplou 35 famílias em situação de vulnerabilidade social selecionadas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras), vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes).
“Visitamos todas as casas e verificamos que muitas das famílias não tinham sequer o cômodo, faziam suas necessidades fisiológicas em baldes e sacolas plásticas”, conta a assistente social Marilurdes de Lago, da Codhab. “Então, um banheiro, que para muitos de nós é uma coisa simples e básica, para essas famílias, que não possuíam um vaso sanitário adequado, um chuveiro quente, é a realização de um sonho”.
Marilurdes lembra que os grupos familiares selecionados não possuem renda fixa e atendem os critérios previstos na Lei 11.888/2008, que assegura o direito das famílias de baixa renda à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social, como parte integrante do direito social à moradia.
Nenhuma Casa sem Banheiro
Criado em 2020 pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS) para enfrentar a pandemia da covid-19, o projeto Nenhuma Casa sem Banheiro logo se estendeu para o Distrito Federal, por meio de parceria com a Codhab.
A iniciativa prevê melhorias sanitárias em domicílios em áreas de vulnerabilidade social, por meio de programas e ações que possibilitem a execução de atividades ligadas à Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis) no DF.
Além de viabilizar recursos para a execução das obras, a Codhab cede equipe social e técnica para orientar os profissionais do CAU-DF, que, por sua vez, disponibilizam, com recursos próprios, profissionais de arquitetura e urbanismo para desenvolvimento do projeto arquitetônico de construção/reforma ou adaptação de unidades sanitárias. O custo do projeto foi financiado pelo CAU-DF.