Foi assinado nesta terça-feira, 13 de maio, na Procuradoria-Geral de Justiça, em Belo Horizonte, um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Instituto Casa da Palavra que prevê a capacitação de funcionários, atletas e equipe técnica dos clubes de futebol do Estado de Minas Gerais na temática da prevenção e atenção à violência machista, com enfoque na temática das masculinidades e de metodologias de grupos reflexivos de gênero. O ACT tem validade de oito meses.
De acordo com o MPMG, pensar ações que dialoguem diretamente com o público masculino, promovendo uma cultura de respeito e igualdade, e ações voltadas às mulheres inseridas no universo esportivo, somam esforços para o enfrentamento às discriminações e violências.
O fenômeno da violência contra a mulher é multifacetado e estrutural em nossa sociedade, o eixo educação da campanha “Cartão Vermelho ao Feminicídio”, busca trabalhar junto aos clubes de futebol a temática em questão de forma reflexiva, almejando a conscientização sobre as questões de gênero, que atravessam a vida de homens e mulheres, além de fomentar uma cultura de respeito e igualdade, trabalhando aspectos das violências, masculinidades, e o enfrentamento, ou seja, como identificar e agir nesses contextos.
Dados do estudo “Futebol e Violência contra a Mulher” (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2022), revelam que, nos dias de jogos de futebol, os registros de ameaças contra mulheres aumentam em 23,7%, e os casos de lesão corporal dolosa crescem 20,8%. “Por isso percebemos a importância de olharmos para a interface violência contra às mulheres e futebol”, destacam MPMG e Casa da Palavra.
As metas/fases do acordo ficaram assim definidas: alinhamentos junto aos clubes de futebol América Futebol Clube, Clube Atlético Mineiro e Cruzeiro Esporte Clube; realização das ações de treinamento interno; e realização dos grupos reflexivos com AFC, CAM e CEC.
Para o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, uma das maiores chagas sociais talvez seja a violência doméstica. Nós do Ministério Público temos o dever moral de, a todo o custo, combater essa chaga. Estamos imbuídos nesse espírito desde que assumimos a instituição. Agradeço ao Casa da Palavra por se associar a nós nessa batalha que é o combate à violência doméstica”.
Ainda segundo Paulo de Tarso, “quando discutidos a violência doméstica com os homens, isso causa um impacto. Com essas e outras ações podemos conscientizar potenciais agressores e pessoas têm funções importantes e que podem propagar a ideia de que a mulher tem que ser amplamente respeitada. Isso vai ao encontro do papel do Ministério Público e das demais instituições parceiras. Eu quero, enquanto puder, expandir nossas ações para que tenhamos êxito, volto a dizer, no combate essa chaga social”.
Segundo Denise Guerzoni, o Instituto Casa da Palavra será um parceiro do MPMG na capacitação junto com o CAO-VD na difusão do que seria a violência de gênero, para que todos os envolvidos sejam agentes de transformação e potenciais divulgadores de conteúdos de informação. A ação visa amplificar o conteúdo sobre violência doméstica. O objetivo é fazer com que todos, seja ele atleta ou funcionário do clube, levem aquele conhecimento para o ambiente no qual ele está inserido. Dessa forma, será possível identificar na vizinhança ou até mesmo no seu ambiente familiar alguma situação na qual ele pode atuar como um multiplicador de proteção”.
Ainda de acordo com a coordenadora do CAO-VD, “essa campanha reverbera dentro de casa, fora dos estádios. Utilizamos da força de comunicação do esporte para alcançar esse viés protetivo doméstico e familiar. Em março nós fizemos com América, Atlético e Cruzeiro. O sucesso da campanha fez com que o Minas Tênis Clube, o Sada Cruzeiro e o tenista profissional Bruno Soares também aderissem. Estamos em tratativas com diversos outros parceiros, buscando levar e amplificar a informação protetiva para mulher”.
De acordo com Yan Ribeiro Ballesteros, diretor-geral do Instituto Casa da Palavra, “a assinatura do termo e de extrema importância no sentido de pensarmos que todas as pessoas que estão envolvidas numa relação de violência ou inseridas num contexto de violência precisam ter o desejo de mudar. Então, o nosso trabalho específico com o público masculino está justamente na ideia de propor ações de reflexão, de responsabilização entre os atletas, de capacitação da comissão técnica, também atentos ao que eles têm a dizer sobre a temática. Não só levarmos a informação de uma maneira burocrática e acumulativa. Estamos muito animados e ansiosos para começarmos, entendendo que o futebol é um lugar que pode ser visto também enquanto um espaço de transformação”.
Ainda segundo Yan, esse trabalho já vinha sendo desenvolvido desde o ano passado, especificamente com as categorias de base dos clubes. “Fomos as bases dos clubes levando um disparador de conversa, que geralmente é uma pergunta para conversarmos com os atletas. Agora, com a assinatura do termo, faremos um esforço conjunto de capacitação de todas comissões técnicas. Também escutarmos e levarmos esses disparadores aos atletas profissionais”.
Participaram da cerimônia o procurador-geral de Justiça, Paulo de Tarso Morais Filho, o secretário-geral da Procuradoria-Geral de Justiça, corregedor-geral do MPMG, Marco Antônio Lopes de Almeida; Thiago Ferraz de Oliveira, coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (CAO-VD), Denise Guerzoni Coelho, coordenador estadual das Promotorias de Justiça do Tribunal do Júri, Cláudio Maia de Barros; diretor-geral do Instituto Casa da Palavra, Yan Ribeiro Ballesteros; comandante da 1ª Companhia da Patrulha de Prevenção a Violência Doméstica da Polícia Militar de Minas Gerais, major Aline Germanio de Souza e tenente Álvaro Henrique Martins de Assis; subsecretaria de Prevenção Social à Criminalidade do Estado de Minas Gerais, Cristiana Dornas; vice-presidente da Comissão de Enfrentamento a Violência contra a Mulher da OAB-MG, Elivania Braz; juiz de Direito e assessor da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Comsiv), Leonardo Guimarães; representante do Minas Tênis Clube, Fernando Zeferino; subsecretária de Política dos Direitos das Mulheres do Estado de Minas Gerais, Joana Coelho; e superintendente de Fomento e Incentivo ao Esporte, Nina de Abreu Carvalho.
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