O trabalho foi iniciado na Comunidade Saco da Roça em 2016. Entre os avanços está uma plantação de adubo verde, que promove melhorias nutricionais, biológicas e físicas do solo
Produtores rurais da região de Bonfinópolis de Minas participaram da palestra do professor Alceu Linhares do curso de agronomia do Campus da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Unaí (MG), na sede da Câmara Municipal, na tarde dessa segunda-feira (4). O tema da conversa foi fertilidade e manejo dos solos, desenvolvido pelo projeto Pibex Pró-Reitoria de Extensão da UFVJM.
Em março de 2016, professores e alunos de agronomia da UFVJM iniciaram um estudo sobre as condições dos solos da Comunidade Saco da Roça, próximo ao município de Bonfinópolis, para conhecer a produtividade e como o solo era manejado na região. Segundo o professor, na época, alguns produtores de cultivo em lavouras manifestaram interesse em aprender com o projeto. Juntamente com outros professores de veterinária e reflorestamento, começaram a trabalhar com os produtores.
“A gente foi conhecer, fazer os mapas do solo e, em cima disso, criar estratégias para a agricultura familiar trabalhar com o manejo, de forma que não gastasse tanto, mas, que conseguissem fazer algo sustentável”, explicou, Alceu. Segundo o professor, no local há uma agroindústria inativa, uma pequena área de cana e a pecuária leiteira é a principal atividade, além de algumas lavouras de milho em período de chuva. “O solo é bem diversificado, raso em algumas situações. As vezes, o déficit hídrico também é grande”, ressaltou, acrescentando que a adubação verde é uma das soluções destacadas para a melhoria do solo da região.
De acordo com a estudante de agronomia Laura Lima, para continuar com o projeto na Comunidade Saco da Roça e expandir para outras regiões, é preciso a liberação de recursos da UFVJM. A palestra foi a última atividade do grupo. “No primeiro ano, a gente viu a questão da degradação e falta de orientação e no segundo apresentamos métodos de adubação e deixamos amostras de como ela deve ser feita. Nós conseguimos mostrar para eles a importância de cada prática e como devem ficar atentos ao solo da região. Nem tudo é um problema e nem tudo é tão simples”, ressaltou, a aluna.
O professor contou que, há um ano, levou os produtores para participar de um dia de campo na universidade, em Unaí (MG) onde foram plantados vários canteiros com diferentes espécies de adubo verde e, segundo o ele, os fazendeiros ficaram impressionados com o desenvolvimento da planta. “Porque não tinha planta daninha, fechou bem, deu muita matéria orgânica, o solo ficou solto. Existem as melhoras nutricionais, biológicas e físicas do solo.
Quem já colocou o aprendizado em prática foi o produtor de maracujás, da região do Riacho das Pedras, Renato Coelho, 42, que, por acaso acompanhou o dia de campo na universidade. O proprietário plantou adubo verde pela segunda vez e comemora os resultados. ” A adubação química em tempos chuvosos desenvolve bem, mas quando seca muito, você observa que a planta não tem a mesma reação em relação ao verde. Quando eu usava só a adubação química, mesmo com irrigação o milho ficava totalmente torcido. Eu vou plantando o milho e quando eu paro de plantar coloco a adubação verde e deixo. Essa fica no solo. Não retiro ela. Fixa nitrogênio e me ajuda a romper mais a estrutura do solo”. Além da produção de maracujás, Renato planta outras frutas, milho e feijão.
Após a palestra, o vereador Reginaldo Palma, que viabilizou o trabalho, acompanhou o grupo até a fazenda de Renato.
Alceu Linhares lembrou que no início fez vários questionamentos aos produtores em relação ao que é feito na fazenda, a aplicação de calcário, a degradação e falta de preservação das áreas, desmatamentos e pastagens do gado próximo ao rio que abastece a região, o Santo André. “Essas coisas, que para nós são básicas dentro da agronomia, eles não estavam fazendo. A aplicação de calcário, a gente quis frisar. A adubação é importante, mas, tem uma etapa anterior, que é a calagem para poder recuperar os nutrientes”, ressaltou.
O resultado de mais de dois anos de trabalho é a aplicação das orientações técnicas na prática. Como o produtor Renato Coelho já está fazendo. “Alguns agricultores já estão trabalhando com adubação verde, fazendo um sistema irrigado e estão melhorando o solo, melhorando o potencial da áreas. As vezes tem a questão do tradicionalismo. Eles aprenderam com os mais antigos e as vezes algumas etapas importantes não são feitas para o correto manejo do solo”, reconheceu.
Outro ponto que influencia diretamente nos solos são as transformações climáticas. Por isso, quem vive da terra deve se preocupar ainda mais com preservação dos recursos naturais. “As chuvas não são regulares como eram antigamente. Varia de ano para ano. A preocupação em melhorar o solo, que é um processo demorado, de médio a longo prazo, é fundamental para que se tenha viabilidade nos próximos anos na atividade agrícola”, alertou, Alceu.
Alunos
Os alunos aprendem ao mesmo tempo em que ensinam os fazendeiros e todos passam a cuidar melhor do meio ambiente. “Conversar com o produtor, entender a realidade. É importante conhecerem produtores desde o nível altamente tecnológico, mediano até o nível mais limitado, porque é importante ter essa troca de informações, saber o que ele pensa e como se pode contribuir. Tudo isso é fundamental nesse processo de aprendizagem. Existe a agricultura de alto nível tecnológico, mas de repente o profissional vai trabalhar com agricultores familiares, assentamento. Então, é preciso conhecer todas as realidades possíveis”, afirmou Linares.
Cooperativa
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Rita Fonseca, aproveitou a palestra na Câmara para convocar os produtores para uma reunião, nesta sexta-feira (8), na sede do sindicato, às 9h. O objetivo será a criação de uma cooperativa de agricultura familiar no município e a pré-seleção de dez fazendeiros, que trabalham com produção leiteira para receber assistência técnica e supervisão gratuitas do Senar durante dois anos. Uma pré-seleção está sendo feita para que a equipe da instituição analise o perfil dos produtores que realmente estão abertos à mudanças. “Às vezes a pessoa necessita mas não aceita mudanças e a implantação de novas tecnologias”, disse, Rita.
Após a palestra, o vereador Reginaldo Palma, que viabilizou o trabalho, acompanhou o grupo até a fazenda de Renato