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    Pacientes com deficiência física contam com rede de cuidados gratuita no DF

    Após um acidente automobilístico em maio de 2021, a vida de David Gabriel Amâncio, 21, tomou um novo rumo. Por conta da lesão cerebral causada pela colisão contra um poste, ele ficou tetraparético (perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores). Celebrado neste domingo (3), o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1992, para promover os direitos e o bem-estar de PcDs em todas as esferas da sociedade e do desenvolvimento. A rede pública de Saúde do DF oferece tratamentos específicos para esses pacientes.

    As sequelas do acidente de David Gabriel não apenas comprometeram a mobilidade, como afetaram a fala e a capacidade de comandar os músculos. “Ele não respondia aos comandos, não falava, se alimentava por sonda e tomava diversos antibióticos por conta de uma infecção”, relembra o irmão, Douglas Amâncio.

    Após acidente de carro, David Gabriel é acompanhado no Centro Especializado em Reabilitação II de Taguatinga | Fotos: Karinne Viana/ Agência Saúde-DF

    Pouco mais de dois meses de internação entre os hospitais Regional de Santa Maria (HRSM) e de Base (HBDF), o jovem iniciou a reabilitação. Devido à espasticidade (distúrbio no controle muscular), ele precisou de aplicação de toxina botulínica, o popular botox. David foi, então, encaminhado pela rede complementar ao Centro Especializado em Reabilitação (CER) II de Taguatinga, que fornece o composto. Segundo a neurologista da unidade Alessandra Avellar, o procedimento é uma forma de relaxar o músculo. “Qualquer lesão cerebral pode levar a uma espasticidade, que é quando a musculatura começa a ficar rígida. Com a aplicação botulínica, conseguimos diminuir essa rigidez e facilitar a movimentação”, explica.

    No CER II, David também é acompanhado por outras áreas, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e consultas com o psicólogo. “Foi de suma importância para o meu irmão, pois ele conseguiu ter evoluções extremamente positivas dentro do centro. A mobilidade e a comunicação dele melhoraram, antes algumas palavras eram difíceis de entender, por exemplo”, relata Douglas.

    Assim como David, o autônomo Edilson Vieira, 49, faz aplicação de toxina botulínica no CER II de Taguatinga. Após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), Edilson perdeu os movimentos do lado esquerdo do corpo. Há um ano em tratamento, ele comemora sua evolução. “Já percebi ao menos 80% de melhora desde o início da reabilitação. Inicialmente, dependia de uma cadeira de rodas; depois passei para muletas; em seguida, para a bengala; e agora consigo caminhar sem auxílio. Meus músculos estavam bastante atrofiados, mas hoje me movimento com facilidade e, surpreendentemente, até voltei a dirigir carro”, diz.

    Joaquim Emanuel Barbosa, 44, nasceu com deficiência auditiva e foi diagnosticado, já na fase adulta, com Transtorno do Espectro Autista (TEA) grau II. Quinzenalmente, ele participa da terapia em grupo de autistas adultos, também promovida pela unidade de Taguatinga. “Compartilhamos informações, conhecimentos e experiências pessoais. Isso contribui com as questões psicológicas, pois a troca favorece atitudes mais acessíveis, evitando passividade ou agressividade”, conta.

    Edilson Vieira: “Já percebi ao menos 80% de melhora desde o início da reabilitação. Inicialmente, dependia de uma cadeira de rodas; depois passei para muletas; em seguida, para a bengala; e agora consigo caminhar sem auxílio”

    De acordo com o psicólogo que conduz as terapias, Márcio Maia, a prática é uma forma de desenvolver as habilidades sociais. “No caso dos autistas que têm dificuldade de interação e socialização, o grupo se torna imprescindível para eles se adaptarem melhor à sociedade nas peculiaridades deles”, explica Maia.

    Acessibilidade

    As histórias de David, Edilson e Joaquim evidenciam a importância do acesso aos serviços especializados e do apoio emocional a esse público. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2022 apontam que o Brasil tem 18,6 milhões de PcDs, cerca de 8,9% da população a partir de 2 anos de idade. Na região Centro-Oeste, o DF apresentou o menor percentual desse grupo, com 7,8% (234,8 mil pessoas). Os principais tipos de deficiência entre os brasileiros são as motoras, visuais e de cognição.

    “O DF está devidamente estruturado para suprir as demandas na assistência aos PcDs. As Unidades Básicas de Saúde são a principal porta de entrada na rede, garantindo atendimento de qualidade à população suscetível e que requer cuidados especiais”

    Lucilene Florêncio, secretária de Saúde

    Para a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, todas as unidades da Federação devem estabelecer unidades de saúde que atendam a necessidades específicas de pacientes com deficiência: “O DF está devidamente estruturado para suprir as demandas na assistência aos PcDs. As Unidades Básicas de Saúde são a principal porta de entrada na rede, garantindo atendimento de qualidade à população suscetível e que requer cuidados especiais”, afirma.

    Na capital, a Secretaria de Saúde (SES-DF) disponibiliza a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPCD), que organiza a assistência em UBSs, ambulatórios, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais. A RCPCD pode ser encontrada nos seguintes locais: CERs de Taguatinga, do Hospital de Apoio de Brasília (HAB) e do Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (Ceal); Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs); oficinas ortopédicas; ambulatórios de saúde funcional e de estomias; Centro de Referência Interdisciplinar em Síndrome de Down (CrisDown); hospitais com leitos de reabilitação e de cuidados prolongados; atendimentos domiciliares; e ainda por unidades de urgências e emergências.

    A RCPCD no DF é formada por serviços nas áreas de reabilitação física, auditiva, visual e intelectual, podendo o atendimento ser em modalidade única ou em dois ou mais setores

    Para assegurar o atendimento integral e contínuo, a assistência da SES funciona de modo articulado, como destaca a gerente de Serviços de Saúde Funcional e coordenadora do grupo condutor da RCPCD, Camila Medeiros: “Temos ações para organizar os serviços dentro da rede. O que a pasta busca é ampliar o acesso e o número de serviços ofertados, qualificar profissionais, melhorar o atendimento e sensibilizar as equipes para que saibam que é preciso identificar as necessidades desse paciente junto à deficiência.”

    Reabilitação

    Hoje, a RCPCD no DF é formada por serviços nas áreas de reabilitação física, auditiva, visual e intelectual, podendo o atendimento ser em modalidade única ou em dois ou mais setores. Neste último caso, são os CERs que oferecem assistência a partir da combinação de, no mínimo, duas modalidades. Na unidade de Taguatinga, por exemplo, são atendidos crianças, jovens e adultos com deficiências físicas e intelectuais e TEA. Em 2023, foram registrados 47,4 mil atendimentos entre janeiro e outubro.

    Fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional e enfermagem são alguns dos serviços disponíveis nos CERs. Há, ainda, o acompanhamento pelas especialidades médicas, como neurologia, fisiatria, ortopedia e clínica geral. Para ter acesso, é preciso ser encaminhado pela atenção primária (UBS) ou hospitalar. O serviço está passando por processo de regulamentação para tornar o atendimento mais acessível e igualitário aos usuários.

    Oficina ortopédica

    “Temos ações para organizar os serviços dentro da rede”

    Camila Medeiros, gerente de Serviços de Saúde Funcional

    O programa de órteses e próteses também é um diferencial da RCPCD. Com o objetivo de dar mais autonomia e melhorar a qualidade de vida da população do DF, a rede oferece uma variedade de dispositivos, incluindo cadeiras de rodas, próteses avançadas de titânio, órteses para membros inferiores e superiores, prótese mamária externa com sutiã, coletes para coluna, palmilhas, entre outros. Cabe ressaltar que as órteses e próteses fornecidas pela SES-DF, por meio da Oficina Ortopédica de Brasília, são feitas sob medida para cada caso e, portanto, adquiridas conforme a demanda.

    O primeiro passo para obter um desses dispositivos é ser avaliado por profissional no Núcleo de Atendimento Ambulatorial de Órteses e Próteses e Materiais Especiais (Naompe), localizado na estação de metrô da 114 Sul. A avaliação deve ser agendada pelo site ou por mensagem no número (61) 99166-6218 (WhatsApp). No próprio local, é feita a consulta por fisioterapeuta do setor e o paciente é inserido na lista de espera do produto solicitado. O fornecimento ocorre por ordem de inscrição, sujeita à disponibilidade dos materiais em estoque.

    Após a etapa de verificação, o paciente entra na fila e recebe instruções sobre os cuidados a serem mantidos até a aquisição da prótese. “Na entrega, orientamos o modo adequado de colocação e de retirada do equipamento, cuidados no uso, higienização, garantias e manutenções”, detalha a chefe do Núcleo de Produção de Órteses e Próteses (Nupop), Mariane Ramos.

    Em relação aos pacientes amputados, há encaminhamento ao serviço de fisioterapia da rede da SES-DF, visando um treinamento inicial de equilíbrio, fortalecimento e preparação para a colocação da prótese. No caso das órteses, as solicitações partem dos profissionais da rede que acompanham os pacientes.



    Sobre Ana Paula Oliveira
    Jornalista formada em Brasília tendo a Capital Federal como principal cenário de atuação nos segmentos de revista, internet, jornalismo impresso e assessoria de imprensa. Infraero, Engenho Comunicação, Portal Fato Online e Câmara em Pauta, Revista BNC, Assessoria de Comunicação do Sesc-DF, Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Rádio Nacional da Amazônia e Jornal GuaráHOJE/Cidades são algumas das empresas nas quais teve a oportunidade de trabalhar com alguns dos renomados nomes do jornalismo no Brasil, e não perdeu nenhuma chance de aprender com esses profissionais. Na televisão, atuou na TV local de Patos de Minas em 2017, além de experiências acadêmicas.
    Ana Paula Oliveira nasceu em Bonfinópolis de Minas e foi morar em Brasília aos 14 anos e retorna à cidade natal em 2018. Durante os 20 anos em que passou na capital, a bonfinopolitana não desperdiçou as chances de crescer como pessoa e também como profissional, com garra e determinação. Além disso, conquistou algo não menos fundamental na sua caminhada: amigos. Isso mesmo. Para a jornalista não ter verdadeiros amigos significa ter uma vida vazia. E, com certeza, esse é um dos seus objetivos, fazer novos amigos nessa nova jornada da vida..

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