Lançada nesta segunda-feira, 4 de agosto, a campanha “A violência que os olhos não veem” busca fortalecer a política pública de enfrentamento à violência contra a mulher no estado, conscientizando a população sobre as diversas formas de violência, especialmente aquelas pouco percebidas. A iniciativa foi idealizada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e realizada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) do Governo de Minas, por meio da Subsecretaria de Políticas para Mulheres (SubPDM). A cerimônia aconteceu no Palácio das Artes, com diversas autoridades do sistema de Justiça e Segurança Pública.
A campanha engloba vídeos para redes sociais, cartazes, folders e cartilhas. O material será encaminhado para organizações da sociedade civil e instituições do sistema de Justiça e Segurança Pública. A ideia é reforçar a mensagem de que “nem toda violência deixa marcas visíveis, mas toda violência machuca”. O foco é direcionado para as violências psicológica, moral, patrimonial e sexual. Essas formas de agressão, muitas vezes ignoradas ou não reconhecidas pela sociedade, causam danos profundos às vítimas.
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Em um dos vídeos para redes sociais, em tom de denúncia, uma influenciadora digital simula dicas sobre como a mulher poderia ocultar abusos físicos, psicológicos e patrimoniais em relações íntimas, tendo como exemplos situações em que o agressor vasculha contas bancárias da vítima, inutiliza cartões de crédito pagos por ela ou parte para agressão física. Ao final da gravação, em uma virada na história, a “influencer fake” provoca uma reflexão sobre a importância de interromper o silêncio em casos desse tipo — contrariando, portanto, as dicas inconvenientes que ela mesmo havia dado.
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Outra peça da campanha é um vídeo inusitado em que uma mulher apresenta uma receita de patê de atum. Enquanto a apresentadora mistura cenoura, maionese e atum, na legenda o que se lê são instruções sobre como acionar o sistema de Justiça e segurança pública caso a mulher enfrente situações de violência doméstica. A ideia é permitir que a vítima possa assistir ao vídeo sem que um agressor íntimo perceba que se trate de um material sobre denúncia.
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Encorajar denúncias
Em seu discurso no lançamento da campanha, a coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Combate à Violência Doméstica (CAO-VD), Denise Guerzoni, ressaltou a necessidade de conscientizar vítimas e familiares sobre agressões invisibilizadas no cotidiano. “Quando se pensou na violência psicológica como carro chefe da campanha, o sentido é encorajar as vítimas que estão sob humilhação, ridicularização ou isolamento. Esse tipo de comportamento do agressor é a antessala de um feminicídio consumado lá na frente”, explicou.
Em entrevista à imprensa, a subsecretária de políticas para as mulheres do Governo de Minas, Joana Coelho, reforçou a importância da denúncia para que as mulheres tenham acesso a medidas protetivas. “Através do site Emergência MG, a mulher vítima de violência consegue fazer a denúncia imediatamente. A ideia dessa campanha é justamente encorajar a denunciar, a falar a respeito, a contar para uma amiga próxima”, exemplificou.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), em 2024, Minas Gerais registrou 153 mil casos de violência doméstica e familiar contra mulheres, uma média de 420 ocorrências por dia. No mesmo ano, 161 mulheres foram vítimas de feminicídio, enquanto 248 sobreviveram a tentativas. Apesar da queda de 14% nos feminicídios registrados em relação a 2023, o aumento de 48% nas tentativas evidencia a urgência em intensificar as estratégias de prevenção, como as medidas protetivas.
Além dos canais de atendimento essenciais como o Disque 181 e o Disque 127, a campanha “A violência que os olhos não veem”, inclui os Centros de Referência de Atendimento à Mulher (Cream), de Assistência Social (Cras) e de Atendimento Especializado (Creas). A campanha também pretende alcançar mulheres que utilizam os serviços públicos de saúde e profissionais dessas áreas. Os cartazes serão distribuídos para os municípios interessados e todas as promotorias de Justiça ao longo do segundo semestre.